segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


  Por favor, dona moça, não confunda as realidades!


Dá licença, dona moça, vou te falar uma coisa. Vou falar de onde vim, o que vivi, e como cresci. Pra começar, falarei somente o que vivi não o que li e nem o que apenas vi. Falarei apenas dos meus sentimentos, e não dos sentimentos alheios.
Não vou usar máscaras da vida dos outros. Eu tenho minha história, diferente da sua, assim como a de outros. Não adianta falar que queria ter o tom da minha pele, meu requebrado, e tudo que um dia já foi julgado. Hoje, vocês vêm acha tudo bonito, exótico, e extraordinário.
 De onde vim 80% das meninas com menos de 17 anos são mães e 80% dos meninos são pais. Vim da periferia. E lá aprendi a conviver com pessoas que de lá pensaram que vieram. Na perifa, aprendi a conviver com gente de dentro e de fora dela. Lá as pessoas desconhecem universidade pública, mal sabem o que é vestibular e a minoria conhece cursinho pré-vestibular. Pra eles Dona moça, universidade mesmo é só particular! dá pra acreditar!. É... Dona moça, na escola em que estudei não aprendi a dar valor aos livros, e sim ao trabalho. Estudava e trabalhava...  e depois de terminado o colégio, só trabalhava. Sabe por quê? Porque meus pais não tiveram condições de bancar e ou incentivar qualquer outra coisa relacionada aos estudos. Pois somos em seis irmãos, cada um com sua história, diferente da minha da sua e de outros.
Meus pais têm pouco conhecimento sobre universidade, e não conseguem distinguir privadas e públicas. Meus pais não vão me dar carro, apartamento ou viajem pro exterior se eu passar no vestibular. Meus pais, Dona, não são professores universitários, e nem mandam motorista me buscar. Eles estudaram até a quarta série do fundamental e não possuem nem uma bicicleta pra passear,  ainda assim me ensinaram a ter coragem e sabedoria para lutar.
É Dona moça!... Não faça da minha à sua historia, pois o seu berço não foi o mesmo que o meu, e sua realidade não é a mesma que a minha. No entanto, Dona! Tenho coragem e sabedoria, pra viver possivelmente em paz e tranqüilidade, mesmo esbarrando com usurpadores de culturas que muitas vezes agridem nossas origens fazendo delas apenas um romance a ser lembrado.

Por favor, dona moça, não confunda as realidades!!

Nalua